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A diferença brutal entre preço e valor

Mulher escreve em documentos na mesa, enquanto segura telemóvel. Papéis incluem orçamentos e garantia.

A seleção de empreiteiro é um dos momentos em que a diferença entre preço e valor mais se sente: acontece antes de uma obra, quando compara orçamentos e decide a quem entrega a sua casa. Se a avaliação de valor for fraca, o “mais barato” passa a ser só um número simpático no papel e uma conta pesada no fim. O que está em jogo não é poupar hoje, é evitar pagar duas vezes amanhã.

O preço é o que sai da sua conta. O valor é o que fica na obra: durabilidade, segurança, prazos cumpridos e menos chatices. E essa distância pode ser brutal quando aparece um imprevisto, um detalhe mal executado ou um “não estava incluído”.

Porque é que o orçamento mais baixo costuma sair caro

Num orçamento baixo, alguém tem de “pagar” a diferença. Às vezes é o empreiteiro (margem mínima e pressa), outras vezes é você (extras, remendos, atrasos). E há ainda o caso pior: a obra avança com materiais ou métodos inferiores, e o problema só aparece quando já é tarde.

O padrão repete-se com pequenas variações: falta detalhe no caderno de encargos, surgem dúvidas em obra, entram aditamentos, e a decisão inicial deixa de fazer sentido. O barato não era barato; estava incompleto.

Um preço baixo pode ser eficiência. Mas sem detalhes e provas, é muitas vezes apenas omissão.

Preço vs. valor: a comparação que deve fazer (antes de assinar)

A avaliação de valor não é “sentir confiança”. É transformar promessas em critérios verificáveis. Em vez de comparar linhas de total, compare o que está incluído, como será executado e como se resolve o que corre mal.

O que compara Foco no preço Foco no valor
Materiais “Marca ou semelhante” Marca, referência e ficha técnica
Execução “Incluído” Método, preparação e acabamentos definidos
Risco “Vai correr bem” Garantias, seguros e plano de obra

Sinais clássicos de que está a comprar “barato” e não “valor”

Alguns sinais são discretos, mas quase sempre aparecem no papel. Outros surgem na conversa: respostas vagas, pressa para fechar, promessas de “logo se vê”.

  • Orçamento com poucas linhas, sem quantidades e sem especificações.
  • Ausência de prazos claros (início, marcos, fim) e penalizações.
  • Exclusões escondidas: entulho, proteções, reparações, licenças, andaimes.
  • Pagamentos muito à frente da obra (“60% na adjudicação”).
  • Garantias pouco claras e sem referência ao que cobrem.

Se um orçamento é curto demais para explicar a obra, também será curto demais para a proteger quando surgirem discussões.

Como fazer uma seleção de empreiteiro que privilegia valor

Não precisa de burocracia infinita. Precisa de um processo simples e repetível que force comparabilidade entre propostas e reduza o espaço para surpresas.

1) Peça propostas comparáveis (e recuse “baldes”)

Entregue o mesmo briefing a todos. Defina o que é “feito” e como se mede: áreas, espessuras, número de pontos elétricos, tipo de tinta, modelos de cerâmica, rodapés, impermeabilizações.

Uma boa regra: se uma parte da obra é importante para si (isolamento, ruído, humidades), ela tem de estar escrita. O que não está escrito vira discussão.

2) Pergunte pelo método, não só pelo resultado

Dois empreiteiros podem prometer o mesmo acabamento e chegar lá de formas muito diferentes. O método denuncia competência.

  • Como vai preparar bases (regularização, primários, tempos de secagem)?
  • Que camadas entram e com que espessuras?
  • Quem executa: equipa própria ou subempreitada?
  • Como protege zonas existentes (pavimentos, caixilharias, mobiliário)?

3) Transforme risco em cláusulas simples

Valor também é previsibilidade. Uma proposta que inclui regras para alterações, atrasos e defeitos vale mais do que um “nós resolvemos”.

Inclua, no mínimo: - Calendário de obra com marcos (e pagamentos ligados a marcos). - Procedimento para trabalhos a mais (orçamentar e aprovar antes de executar). - Prazo de garantia e forma de acionar correções. - Seguro de responsabilidade civil e, se aplicável, acidentes de trabalho.

A obra não falha por ter problemas. Falha quando não tem regras para os problemas.

O teste rápido da avaliação de valor

Antes de decidir, faça este teste mental: “Se algo correr mal, como é que isto se resolve?” Se não consegue responder com base no documento, está a comprar preço, não valor.

Um bom empreiteiro não foge a perguntas; ajuda a clarificar. Um empreiteiro perigoso acelera a decisão e minimiza detalhes.

Checklist final (leva 5 minutos e evita meses de dores de cabeça)

  • O orçamento descreve materiais com referências e quantidades?
  • Há exclusões listadas de forma explícita?
  • Pagamentos seguem a obra (e não o contrário)?
  • Prazos estão escritos e têm marcos?
  • Há evidência de trabalhos anteriores semelhantes (com contactos, se possível)?
  • Garantias e seguros estão documentados?

Se dois orçamentos estiverem próximos, escolha o que reduz risco. Se um for muito mais baixo, trate-o como um alerta: peça detalhe e justificação técnica, ou siga em frente.

FAQ:

  1. O mais caro é sempre melhor? Não. Mas um preço mais alto com especificações, método e garantias claras costuma oferecer mais valor do que um preço baixo sem detalhe.
  2. Como comparo orçamentos que “não falam a mesma língua”? Exija quantidades, referências de materiais e uma lista de exclusões. Sem isso, está a comparar suposições.
  3. O que é um “extra” legítimo numa obra? Algo que não estava definido no briefing/caderno de encargos ou uma alteração pedida por si. O problema é quando o “extra” resulta de omissões do orçamento.
  4. Que detalhe mínimo devo pedir para aceitar um orçamento? Materiais identificados, método resumido por fase, prazos, plano de pagamentos por marcos, exclusões e condições de garantia/seguros.

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