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A maioria das pessoas subestima este fator crítico

Homem escreve num bloco de notas em mesa com documentos e telemóvel; ao fundo, obras de construção.

Acontece quase sempre da mesma forma: recebe três orçamentos, olha para o preço e pensa que está a ser prudente. Só que, na seleção de empreiteiro, o que parece “poupança” muitas vezes é apenas uma avaliação de risco mal feita - e é aí que o dinheiro (e a paz) começam a fugir. Este fator crítico é subestimado porque não aparece no Excel: a capacidade real de executar, sem surpresas, no mundo como ele é.

É desconfortável admitir, mas a maioria das obras não descarrila por falta de boa vontade. Descarrila por falta de previsibilidade. E previsibilidade não se compra ao metro quadrado.

O dia em que um “bom preço” me pareceu uma vitória

No papel, estava perfeito. Prazo curto, equipa “completa”, materiais “incluídos”, e um valor que fazia os outros dois parecerem inflacionados. Eu queria acreditar - porque a vida já vem cara, e uma obra é sempre aquela linha no orçamento que assusta.

Duas semanas depois, veio o primeiro “pequeno ajuste”. Nada dramático, disseram. Era só uma questão de “condições no local”. Depois veio a falta de um homem-chave, depois a encomenda que “atrasou na fábrica”, e, quando dei por mim, já tinha um calendário de desculpas colado na parede.

O problema não foi o erro técnico. Foi eu ter subestimado o fator crítico: o risco escondido dentro de promessas fáceis.

O fator crítico que quase ninguém mede: o risco de execução

Na seleção de empreiteiro, as pessoas comparam preços como se estivessem a escolher um telemóvel. Só que uma obra não é um produto fechado: é uma sequência de decisões, dependências, fornecedores, imprevistos e gestão de equipa. O preço é só a embalagem.

O que separa um empreiteiro “barato” de um empreiteiro “caro” é muitas vezes isto: quem é que absorve o risco quando algo corre mal. Se não está explícito, adivinhe quem absorve.

Uma avaliação de risco simples, feita antes de assinar, apanha aquilo que o orçamento não diz:

  • se o cronograma é realista ou otimista por defeito;
  • se há margem para imprevistos (tempo, materiais, subempreitadas);
  • se a comunicação e a documentação são profissionais ou improvisadas;
  • se existe histórico de cumprir, e não apenas de prometer.

Como o risco se disfarça de “confiança” (e de boa conversa)

Há sinais que parecem positivos, mas são só conforto. O empreiteiro que diz “não se preocupe, isso resolve-se” pode estar a tranquilizá-lo… ou a evitar compromissos.

A versão moderna disto é o orçamento com frases elásticas: “inclui tudo”, “conforme necessário”, “a definir em obra”. Parece flexível. Na prática, é um cheque em branco com letra pequena.

E há outro disfarce: a urgência simpática. “Se decidir hoje, consigo encaixar já na próxima semana.” A pressa não prova competência. Muitas vezes prova só falta de pipeline - ou falta de método.

O que uma avaliação de risco prática deve incluir (sem virar auditoria)

Não precisa de transformar a sua obra num processo de contratação pública. Precisa de meia hora de fricção saudável. O objetivo é ver como o empreiteiro reage quando a conversa deixa de ser vaga.

Perguntas que mudam o jogo

Peça respostas específicas. Não “mais ou menos”.

  1. Quem vai estar todos os dias em obra? Nome, função e disponibilidade.
  2. Que trabalhos são subempreitados e a quem? (E se esses subempreiteiros são fixos ou “conforme aparecer”.)
  3. Como é gerida a alteração de âmbito? Ordem de trabalhos, preços unitários, aprovação por escrito.
  4. Que riscos já vê no meu caso? Um bom profissional identifica riscos cedo; um mau profissional só os “descobre” tarde.

Evidências, não promessas

Em vez de “tem referências?”, peça algo que não dê para inventar em dois minutos:

  • 2–3 contactos de clientes com obras semelhantes (não “um amigo”);
  • fotografias de fases intermédias (não só o “depois”);
  • exemplo de um plano de obra simples (sequência e dependências);
  • cópia do seguro e condições claras de garantia.

A melhor parte? O objetivo não é apanhar ninguém em falso. É perceber o nível de maturidade de execução.

O erro que custa mais: comparar orçamentos sem comparar âmbito

Dois valores iguais podem estar a comprar coisas completamente diferentes. Um inclui preparação, proteção, limpeza e testes; outro inclui “aplicar” e logo se vê. A obra não perdoa estas ambiguidades, porque a realidade vai cobrar o que o papel não definiu.

Um truque prático é forçar equivalência: peça a cada empreiteiro para confirmar, por escrito, itens que costumam gerar guerra.

  • Remoção e transporte de entulho
  • Proteções (pavimentos, móveis, zonas comuns)
  • Tratamento de humidades/impermeabilização (com marca e sistema)
  • Acabamentos finais (silicones, juntas, retoques)
  • Limpeza e entrega

Se alguém responder com irritação, isso também é dado. A obra é feita de conversas difíceis; convém que a relação aguente.

Uma mini-grelha de decisão (para não decidir só com o instinto)

A maioria de nós decide com o estômago e justifica com o orçamento. Inverter isso ajuda: decidir com critérios e só depois olhar para o preço.

Critério O que observar Sinal de alerta
Planeamento sequência clara, prazos por fase “Faz-se tudo ao mesmo tempo”
Documentação âmbito, exclusões, mudanças por escrito “Depois acertamos”
Capacidade equipa, subempreiteiros, disponibilidade depende de “arranjar pessoal”

Quando terminar, o preço continua a importar. Mas passa a ser o preço de um cenário que entende, não de uma esperança.

O que as pessoas mais subestimam, no fim: o custo emocional

Há custos que não entram na fatura: telefonemas que não são atendidos, decisões em cima do joelho, poeira por mais uma semana, vizinhos a reclamar, dias de trabalho perdidos para “ir ver como está”.

Um empreiteiro competente não é só o que sabe fazer. É o que reduz o seu ruído mental com método: alinhamentos, registos, confirmação de escolhas, avisos antecipados. Isso é gestão de risco aplicada ao quotidiano.

E é por isso que o fator crítico é tão traiçoeiro: só se nota quando falta.

FAQ:

  • Como sei se estou a fazer uma boa seleção de empreiteiro? Quando consegue explicar, em duas frases, o âmbito, o prazo, como se tratam alterações e quem é responsável por cada fase - sem “logo se vê”.
  • A avaliação de risco não vai afastar bons empreiteiros? Normalmente, não. Profissionais sérios gostam de clareza; quem foge de perguntas básicas tende a fugir também de responsabilidade.
  • Qual é o maior sinal de alerta num orçamento? Ambiguidades (“inclui tudo”, “conforme necessário”) sem lista de exclusões e sem processo para trabalhos a mais.
  • Devo escolher sempre o empreiteiro mais caro? Não. Deve escolher o que oferece melhor previsibilidade e controlo. Às vezes é o mais caro; muitas vezes é o que explica melhor e documenta tudo.

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