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Arquiteto ou designer de interiores? A escolha errada sai cara

Homem analisa planta de remodelação em sala, segurando smartphone e fita métrica, com cozinha ao fundo.

Está a planear obras em casa e, a meio de orçamentos e inspirações, surge a dúvida: designer de interiores ou arquiteto? A comparação de arquitetos parece simples no papel, mas na prática a escolha errada pode atrasar licenças, rebentar o orçamento e deixar decisões críticas sem dono. Um designer de interiores é valioso quando o problema é o espaço vivido - layout, funcionalidade, materiais, luz - mas nem sempre é a pessoa certa para mexer em estruturas e legalidades.

Imagine uma noite de domingo, fita métrica numa mão e telemóvel na outra, a tentar decidir se “deita abaixo aquela parede” para abrir a sala. O empreiteiro diz que “isso faz-se”, o Pinterest diz que fica lindo, e alguém lhe recomenda “uma pessoa de interiores que resolve tudo”. É aqui que muitos projetos começam a gastar dinheiro antes de gastar tempo a pensar no essencial.

A confusão silenciosa que custa mais do que um sofá

A maior parte das pessoas não escolhe mal por teimosia. Escolhe mal porque as palavras misturam-se: “projeto”, “planta”, “design”, “obra”, “remodelação”. E porque há um mito confortável de que, se alguém tem bom gosto e experiência, consegue tratar do resto.

Só que uma casa não é só estética. É estrutura, redes técnicas, segurança, regras do condomínio, licenças municipais e responsabilidades legais. Quando estas camadas ficam “por resolver” até à fase da demolição, a conta aparece de forma pouco poética: trabalhos refeitos, materiais devolvidos, semanas perdidas.

O que um designer de interiores faz (quando está no terreno certo)

O designer de interiores trabalha no que você vive e toca todos os dias. Não é “só decoração” - quando é bom, evita erros funcionais que se pagam durante anos.

Pense em decisões como:

  • distribuição de zonas (cozinhar, trabalhar, descansar) sem estrangular circulações
  • desenho de cozinha e casas de banho com ergonomia real (aberturas, alturas, acessos)
  • iluminação por camadas (tarefa, ambiente, destaque) para não viver em sombras
  • seleção de materiais resistentes ao uso e fáceis de manter, sem surpresas na obra
  • coordenação de mobiliário por medida, cores, têxteis e acessórios com um fio condutor

A diferença prática é esta: um bom designer antecipa a forma como o espaço vai funcionar numa terça-feira normal, não numa fotografia. E isso reduz compras duplicadas, “soluções temporárias” e arrependimentos caros.

Onde a escolha começa a correr mal (e ninguém avisa)

Há um momento típico: o designer propõe mover a cozinha para a sala para “abrir o espaço”. Parece lógico. O problema é que, por trás dessa frase, pode existir um pacote inteiro de exigências: esgotos com pendentes, ventilação, extração, gás, potência elétrica, ruído para o vizinho de baixo, e - em muitos prédios - regras do condomínio.

O erro comum não é querer melhorar a casa. É avançar com o layout final e encomendar móveis antes de confirmar o que é possível (e legal). E aí a obra começa a mandar no projeto, em vez do contrário.

Antes de escolher quem lidera, confirme o tipo de risco: é uma mudança estética e funcional, ou uma alteração técnica/estrutural?

Então… quando precisa de arquiteto?

Não é uma questão de “melhor profissional”. É uma questão de responsabilidade e enquadramento. Em linhas gerais, precisa de arquiteto quando há alterações que mexem com o edifício, o licenciamento, ou a segurança.

Sinais frequentes:

  • demolição/abertura de paredes com dúvida estrutural
  • alterações de fachadas, vãos, marquises, varandas
  • aumento de área, anexos, mudanças de uso
  • intervenções que podem exigir licença/comunicação prévia
  • necessidade de coordenação de especialidades (estruturas, AVAC, águas/esgotos, eletricidade)

Mesmo em remodelações “pequenas”, um arquiteto pode ser decisivo para resolver o que ninguém quer assumir: compatibilizar o desejo com as regras e com o edifício real.

A escolha errada sai cara por um motivo simples: decisões sem dono

Quando não está claro quem valida o quê, as decisões críticas ficam em suspensão. E a obra odeia suspensões - porque alguém vai avançar na mesma, normalmente o empreiteiro, normalmente com a solução mais rápida.

Os custos escondidos aparecem assim:

  • Medições e erros de encomenda: móveis por medida que não encaixam porque a parede “não era bem assim”.
  • Retrabalho técnico: pontos de água e luz mudados duas vezes porque o layout foi ajustado tarde.
  • Atrasos por licenças: parar a obra quando já há demolição feita é o pior timing possível.
  • Orçamento a escorrer: pequenas alterações somam-se em aditamentos, transporte, armazenamento, urgências.

A parte mais ingrata é que, no fim, o projeto pode até “ficar bonito”. Só que custou mais do que precisava e desgastou mais do que devia.

Um mini-guia de decisão (em vez de adivinhar)

Comece por estas três perguntas

1) Vou mexer em paredes, vãos, fachada ou estrutura? Se sim, fale com um arquiteto antes de fechar o resto.
2) O meu problema principal é funcionalidade/ambiente e não construção? Se sim, um designer de interiores pode ser o melhor líder.
3) Quem vai coordenar o empreiteiro e validar soluções em obra? Se ninguém o fizer, você fará - e isso custa tempo e dinheiro.

Dois cenários típicos

  • “Quero renovar sem mudar o esqueleto”: acabamentos, iluminação, cozinha no mesmo sítio, otimização de arrumação. Um designer de interiores pode entregar enorme valor e poupar-lhe erros.
  • “Quero abrir espaços e mudar a lógica da casa”: demolições, relocação de cozinha/IS, alterações relevantes. Comece por arquiteto (e depois traga o designer para elevar a vivência e o detalhe).

O melhor resultado costuma ser equipa, não duelo

Há projetos em que arquiteto e designer de interiores se complementam de forma quase invisível: o primeiro garante viabilidade, segurança e enquadramento; o segundo transforma isso numa casa coerente, confortável e bem resolvida no detalhe.

Se tiver de escolher só um, escolha pela natureza do risco. Porque é aí que o barato se torna caro: quando o problema era técnico e foi tratado como estético - ou quando era vivência e foi tratado como planta fria.

Checklist rápido para não pagar duas vezes

  • Peça para ver trabalhos semelhantes ao seu (não “bonitos”, semelhantes).
  • Confirme o que está incluído: projeto, medições, mapas de materiais, acompanhamento de obra.
  • Exija um plano de decisões: o que se fecha antes de demolir, antes de encomendar, antes de instalar.
  • Se houver dúvida estrutural, não avance com “vamos ver”: ver em obra é caro.

FAQ:

  • O designer de interiores pode fazer projeto de remodelação? Pode fazer projeto de interiores (layout, materiais, iluminação, mobiliário), mas alterações estruturais e licenciamentos exigem enquadramento técnico e, muitas vezes, arquiteto e especialidades.
  • Preciso sempre de licença para remodelar? Não sempre. Depende do tipo de intervenção e do município/condomínio. Mexer em fachada, estrutura ou elementos comuns aumenta muito a probabilidade de necessidade de licenciamento ou comunicação prévia.
  • O que costuma causar mais derrapagens no orçamento? Decidir tarde: mudar layout após instalações feitas, encomendar antes de medir em obra, e não compatibilizar técnica (águas/esgotos/eletricidade) com o desenho.
  • Vale a pena contratar ambos? Quando há alterações técnicas e também ambição estética/funcional, sim. Em muitos casos sai mais barato do que corrigir erros em obra e viver com remendos.

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