Saltar para o conteúdo

Este detalhe muda tudo na comunicação com a equipa

Homem a trabalhar num portátil e telemóvel, com café ao lado, num escritório em casa com janela e bloco de notas.

Numa terça-feira qualquer, a gestão de projetos acontece menos no plano bonito e mais no intervalo entre reuniões, mensagens e decisões pequenas. É aí que o fluxo de comunicação decide se a equipa avança com confiança - ou se anda às voltas, a “fazer” muito e a alinhar pouco. O detalhe que muda tudo costuma ser invisível até falhar: não é o canal, é a regra.

Às 9h12 alguém pergunta no chat “isto é para hoje?”. Às 9h14 outro responde com um emoji, alguém assume que é “sim” e começa. Às 11h03 surge a surpresa: afinal era “para esta semana”, mas dependia de uma validação que ninguém pediu. O dia segue, e o projeto perde tempo de forma tão silenciosa que custa apontar o culpado.

O problema raramente é falta de comunicação. É comunicação sem contrato

Há equipas que falam muito e, mesmo assim, não se entendem. A sensação é parecida com pagar duas vezes pelo mesmo trajeto: a informação existiu, mas não era “válida” para aquela decisão. Trocam-se mensagens, mas não se confirma quem decide, quem executa, e o que significa “feito”.

O detalhe que altera o jogo é estabelecer um contrato simples para cada pedido: contexto + decisão esperada + prazo + dono. Não precisa de uma ferramenta nova, nem de um template de 20 linhas. Precisa de consistência, porque é a consistência que reduz suposições.

A regra de ouro: cada mensagem tem de dizer o que pretende mudar

Quando alguém escreve “podem ver isto?”, a equipa vê - e fica na mesma. O fluxo melhora quando a frase indica o movimento: aprovar, bloquear, escolher, planear, validar. A pergunta deixa de ser “alguém viu?” e passa a ser “o que fazemos agora?”.

Na prática, isto traduz-se em micro-hábitos que parecem burocracia até começarem a poupar horas:

  • Começar pedidos com um verbo: “Preciso de aprovação”, “Preciso de decisão”, “Preciso de revisão”
  • Incluir um prazo explícito: “até às 16h” em vez de “hoje”
  • Indicar o impacto: “sem isto, a tarefa X não arranca”
  • Nomear uma pessoa (não um canal): “@Rita, consegues decidir?” em vez de “alguém consegue?”

Não é rigidez. É uma forma de proteger o foco da equipa e evitar que o trabalho aconteça “por reflexo”.

Um exemplo pequeno (e realista) de antes e depois

Antes: “Pessoal, isto do onboarding está ok?”
Depois: “@Tiago, podes aprovar o texto do onboarding até às 15h? Se estiver ok, publico hoje; se não, preciso de comentários no doc.”

O conteúdo é parecido, mas o segundo cria uma linha reta: quem decide, quando decide e o que muda a seguir. A equipa deixa de adivinhar e passa a executar.

O segundo detalhe: separar discussão de decisão (e registar a decisão onde todos a encontram)

Muitas equipas confundem “falámos sobre isso” com “ficou decidido”. Em gestão de projetos, essa confusão é caríssima porque cria versões paralelas da verdade: a do chat, a da reunião, a da pessoa que “ouviu assim”. A solução simples é criar um ponto único onde as decisões vivem.

Não precisa de ser sofisticado. Precisa de ser óbvio. Uma regra possível:

  • Discussões podem acontecer no chat e em chamadas.
  • Decisões vão sempre para o mesmo sítio (ex.: ticket, página do projeto, comentário fixo).
  • A decisão tem sempre: o quê, quem, quando, porquê (uma linha).

Esta “contabilidade” da decisão reduz re-trabalho e elimina o ping-pong de confirmação.

“Não queremos mais mensagens. Queremos uma regra clara para saber quando algo ficou mesmo combinado.”

Um mini-protocolo de equipa que cabe num post-it

O detalhe que muda tudo costuma falhar porque fica na cabeça de um PM ou de uma pessoa mais organizada. Quando vira protocolo de equipa, o fluxo de comunicação deixa de depender do humor do dia.

Eis um formato curto que funciona bem, sobretudo em projetos com várias frentes:

  1. Pedido (chat): verbo + dono + prazo + impacto
  2. Trabalho (task): tarefas com critérios de “feito” (2–3 bullets)
  3. Decisão (registo): nota única com link e data

Se isto parece “demais”, experimente só em duas situações: aprovações e mudanças de prioridade. É onde a maioria das equipas perde tempo sem perceber.

O que muda na prática (e porque a equipa sente logo)

Quando o detalhe está afinado, não há magia. Há menos fricção: menos “só para confirmar”, menos retrabalho, menos esperas invisíveis. As pessoas também ficam mais confortáveis a dizer “não sei” ou “não consigo até essa hora”, porque o pedido é claro e o compromisso é negociável.

E há um efeito secundário importante: confiança. Uma equipa que sabe onde estão as decisões e o que se espera de cada mensagem não precisa de vigiar constantemente o chat para não “perder” o projeto. O silêncio deixa de ser risco e volta a ser foco.

O memo rápido

  • Se a mensagem não diz o que precisa de mudar, vira ruído
  • Se a decisão não fica num sítio único, vira boato operacional
  • Se o prazo é “hoje”, alguém vai entender “agora”

FAQ:

  • Isto não torna a comunicação mais lenta? No início pode parecer mais “formal”, mas costuma acelerar porque reduz idas e voltas e elimina trabalho feito por suposição.
  • Que ferramenta é melhor para registar decisões? A que a equipa já usa todos os dias. Pode ser o ticket, uma página do projeto ou um comentário fixo - o essencial é haver um sítio único.
  • E se ninguém responder ao pedido? O protocolo ajuda precisamente aí: se há dono e prazo, o silêncio torna-se um sinal claro de bloqueio e pode ser escalado sem drama.
  • Funciona em equipas pequenas? Ainda mais. Em equipas pequenas, uma suposição errada espalha-se depressa; um formato simples evita que “toda a gente achou” substitua “alguém decidiu”.

Comentários (0)

Ainda não há comentários. Seja o primeiro!

Deixar um comentário