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Este erro comum cria frustração para todos os envolvidos

Três homens numa mesa a discutir um plano de construção. Um aponta o plano, outro segura um telemóvel. Há um caderno.

Há um momento em que o processo de construção deixa de ser “uma obra a andar” e passa a ser uma fonte de tensão diária. Quase sempre, a raiz está na ineficácia do processo: decisões tomadas tarde, informação desencontrada e pessoas a trabalhar com versões diferentes do mesmo plano. O resultado é previsível - atrasos, custos extra e uma sensação de injustiça para todos os envolvidos.

A frustração raramente vem de um único erro técnico. Vem de um erro banal, repetido em obras pequenas e grandes, em reabilitação e em construção nova: começar (ou continuar) sem alinhar, por escrito, o que é “feito” e quem valida cada etapa.

O erro que parece pequeno, mas rebenta na obra

Em muitas equipas, “está aprovado” significa apenas que alguém concordou verbalmente numa chamada, ou que “não disse que não”. O problema é que, numa obra, o silêncio não é validação e a memória não é controlo de qualidade. Quando não existe um ponto claro de decisão, cada interveniente preenche as lacunas com o que lhe parece mais lógico - e isso cria versões paralelas da realidade.

O empreiteiro avança para não parar a equipa, o projetista assume que a solução anterior se mantém, o fiscal espera um detalhe que ainda não foi fechado, e o dono de obra só percebe o desvio quando já está executado. A discussão nunca é “o que é melhor”, é “quem autorizou”.

O “quase aprovado” é o combustível do retrabalho

A palavra “quase” é perigosa na construção. Quase aprovado, quase definido, quase compatibilizado. O retrabalho entra em cena precisamente nesse intervalo: o material já foi encomendado, a equipa já executou, e só depois aparece a alteração “óbvia” que ninguém formalizou.

E quando chega a correção, chega com pressa. A pressa aumenta o risco, e o risco volta a alimentar a frustração - um ciclo perfeito para a ineficácia do processo.

Como isto se manifesta no dia a dia (e porque irrita tanto)

Há sinais muito concretos de que a obra está a viver de decisões implícitas. Normalmente aparecem como “pequenas chatices” que se repetem.

  • Medições que não batem certo entre desenho e obra, mas “resolve-se em obra”.
  • Encomendas feitas com base em prints antigos ou PDFs sem data.
  • Equipas no terreno à espera de resposta para conseguir continuar.
  • Alterações comunicadas por WhatsApp sem registo final do que ficou decidido.
  • Reuniões que acabam com “ficou combinado” mas sem um resumo validado.

O que irrita é que ninguém está a tentar fazer mal. Ainda assim, todos acabam a sentir que estão a pagar pelo erro de alguém - mesmo quando o erro foi do sistema, não da pessoa.

Porque acontece: não é falta de competência, é falta de ritual

Muitas equipas têm bons profissionais e, mesmo assim, caem nisto. A razão é simples: a obra tem demasiadas decisões pequenas e demasiadas dependências. Sem um ritual mínimo de validação, a comunicação vira ruído.

Há também um incentivo invisível: parar para formalizar parece “burocracia” e dá a sensação de travar o progresso. Só que, na prática, é o contrário - formalizar evita parar mais tarde, quando a correção já é cara.

Quando a aprovação é difusa, a responsabilidade também é difusa. E a obra odeia difusão.

Um modo de trabalho simples que corta 80% da fricção

Não é preciso um software caro para corrigir isto. É preciso um ponto único de verdade e um método curto, repetível, que toda a gente respeite.

O protocolo em 5 passos (curto e eficaz)

  1. Definir o que precisa de aprovação: materiais visíveis, alterações de layout, soluções MEP críticas, acabamentos, detalhes de interface.
  2. Usar uma única lista de decisões (um documento ou quadro partilhado): item, responsável, data, estado (proposto/aprovado/rejeitado).
  3. Fechar cada decisão com evidência: um PDF datado, uma nota de reunião assinada por email, ou uma “ordem de alteração” simples.
  4. Bloquear execução sem estado “aprovado” nas decisões críticas (mesmo que doa no início).
  5. Comunicar a versão: “vamos executar a V3 de 22/11”, nunca “o último que enviaste”.

Este tipo de disciplina não elimina imprevistos. Mas transforma imprevistos em gestão, em vez de conflito.

O que muda para cada pessoa quando o erro desaparece

Quando a aprovação deixa de ser ambígua, a obra fica mais leve - não por ficar fácil, mas por ficar justa.

  • Dono de obra: decide com clareza e vê o impacto (prazo/custo) antes de avançar.
  • Projetistas: param de “adivinhar o que foi construído” e reduzem urgências artificiais.
  • Fiscalização/coordenação: ganha rastreabilidade e consegue prevenir, não apenas reagir.
  • Empreiteiro e subempreiteiros: trabalham com menos interrupções e menos risco de refazer à custa própria.

Há um efeito emocional importante: as pessoas deixam de discutir memórias e passam a discutir factos. Isso baixa o tom, acelera a decisão e reduz aquele cansaço mental que se instala em obras longas.

Um teste rápido para saber se está a acontecer na sua obra

Se responder “sim” a duas ou mais, o erro já está ativo:

  • Já houve execução com base em “é só para avançar e depois vemos”.
  • Já se comprou material sem ficha final ou sem amostra aprovada.
  • Já se alterou algo “em obra” e só depois se pediu para atualizar o projeto.
  • Já houve uma discussão séria sobre “quem disse para fazer assim”.
  • Existe mais do que um sítio onde a equipa procura “a última versão”.

O objetivo não é culpar. É reconhecer o padrão cedo, antes de ele ficar caro.

Fechar decisões não é burocracia: é respeito pelo tempo de todos

A construção tem barulho, poeira e pressão, mas não precisa de ter confusão. Um processo de validação curto - e consistentemente aplicado - reduz retrabalho, protege relações e devolve previsibilidade ao calendário.

No fim, a diferença entre uma obra “difícil mas controlada” e uma obra “sempre em conflito” raramente está num grande segredo técnico. Está em parar dois minutos, fechar a decisão e seguir todos na mesma direção.

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