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Obras sem este alinhamento tendem a gerar conflitos constantes

Quatro pessoas analisam planos numa mesa de madeira, num ambiente de construção, com lista de verificação em primeiro plano.

Há um momento numa obra em que o ruído deixa de ser “normal” e passa a ser constante: um telefonema a desoras, uma alteração de última hora, um empreiteiro à espera de uma decisão que ninguém quer assumir. É aí que a coordenação de projeto deixa de ser um luxo e passa a ser o travão de emergência - sobretudo quando falha o alinhamento das partes interessadas entre dono de obra, projetistas, fiscalização e equipa de execução. E o custo desse desalinhamento não aparece só na fatura: aparece na fricção diária, nos atrasos e na perda de confiança.

Nem sempre é um grande erro técnico. Muitas vezes é uma soma de pequenos “entendimentos” diferentes: o que estava no caderno de encargos vs. o que foi dito na reunião; o que o projeto prevê vs. o que o estaleiro consegue montar; o que o cliente imaginou vs. o que está licenciado. A obra anda, mas anda torta - e a correção vem sempre mais cara.

O alinhamento que quase ninguém faz… até ser tarde

O alinhamento das partes interessadas não é uma reunião bonita com powerpoints. É garantir que todos estão a jogar o mesmo jogo, com as mesmas regras, antes de começar a correr. Quando isso falha, a obra transforma-se num “telefone estragado” com betão e prazos.

Um exemplo simples, demasiado comum: o cliente pede “tetos limpos e minimalistas”, o arquiteto desenha sancas invisíveis, e o projetista de AVAC precisa de grelhas e acessos. Sem coordenação de projeto a fazer a ponte, o conflito só aparece quando o teto já está fechado - e, de repente, há cortes, remendos e discussões sobre “de quem é a culpa”.

O problema não é haver interesses diferentes. O problema é ninguém os tornar explícitos e compatíveis.

Onde nascem os conflitos constantes (e como se repetem)

Os conflitos em obra têm padrões. Se os reconhece, é porque já os viveu - ou está prestes a vivê-los.

  • Decisões sem dono: todos opinam, ninguém aprova, e o estaleiro fica parado à espera.
  • Alterações não registadas: “só uma mudança pequena” que não entra em desenho, mapa de quantidades ou prazo.
  • Projetos em silos: arquitetura de um lado, estruturas do outro, especialidades a correr atrás.
  • Expectativas desalinhadas: qualidade, prazos e orçamento nunca foram acordados de forma objetiva.
  • Informação que chega tarde: medições, detalhes e compatibilizações aparecem quando já há material encomendado.

A repetição é o que desgasta: cada semana tem a sua “surpresa”, cada surpresa abre uma exceção, e cada exceção vira precedente.

O que a coordenação de projeto deve fazer na prática (não na teoria)

A coordenação de projeto existe para reduzir ambiguidade antes de ela virar litígio. Não é “mais uma camada”; é a função que fecha pontas soltas entre pessoas, documentos e decisões.

O trabalho útil costuma parecer aborrecido: perguntar, confirmar, registar, cruzar. Mas é precisamente isso que impede que a obra viva de interpretações.

Três rotinas que mudam o jogo

  1. Reunião de alinhamento com ata objetiva (curta, mas completa): decisões, responsáveis, datas e impactos.
  2. Compatibilização sistemática: não “quando der”, mas em marcos do projeto (ex.: antes de concurso, antes de obra, antes de encomendas críticas).
  3. Gestão de alterações: qualquer mudança tem de responder a três perguntas: o que muda, quanto custa, quanto atrasa.

E um detalhe que quase ninguém valoriza: um “não” atempado vale mais do que um “logo se vê” simpático.

Um mini-checklist para alinhar antes de abrir o estaleiro

Se tiver de resumir o alinhamento das partes interessadas a um ritual curto, é este. Dá trabalho numa tarde e poupa semanas de desgaste.

  • Objetivo comum escrito: o que é “sucesso” para esta obra (prazo, qualidade, custo, operação)?
  • Escopo fechado (ou assumidamente aberto): o que está incluído e o que não está.
  • Responsabilidades claras: quem decide o quê (e em quanto tempo).
  • Critérios de qualidade mensuráveis: materiais, tolerâncias, amostras, mockups quando necessário.
  • Canais e cadência de comunicação: uma fonte de verdade para documentos, uma periodicidade para decisões.
  • Riscos assumidos: acessos, fornecimentos, interfaces com entidades, licenças e condicionantes.

Se isto não existir, a obra não fica “mais flexível”. Fica mais vulnerável.

O sinal mais claro de desalinhamento: a obra fica pessoal

Quando falta alinhamento, as conversas deixam de ser sobre soluções e passam a ser sobre intenções. “Vocês disseram”, “nós percebemos”, “sempre foi assim”. A obra fica emocional, e isso é péssimo para decidir bem.

Uma coordenação de projeto competente baixa a temperatura: transforma opiniões em requisitos, requisitos em desenhos, desenhos em planos, planos em execução. E quando há conflito - porque haverá - ele aparece cedo, em papel, e não tarde, com trabalho feito.

“A obra não falha no dia em que se engana um detalhe. Falha no dia em que ninguém sabe quem tem de decidir - e com base em quê.”

Ponto-chave O que fazer Ganho direto
Alinhamento inicial Definir sucesso, escopo e responsabilidades Menos paragens e menos “surpresas”
Compatibilização Cruzar especialidades antes de encomendas Menos retrabalho e desperdício
Gestão de alterações Registar impacto em custo/prazo/qualidade Menos conflito e decisões mais rápidas

FAQ:

  • O que significa, na prática, alinhamento das partes interessadas numa obra? Significa garantir que dono de obra, projetistas, fiscalização e empreiteiro partilham objetivos, prioridades, critérios de qualidade e processo de decisão - por escrito e antes da execução crítica.
  • A coordenação de projeto substitui a fiscalização? Não. A coordenação foca-se na coerência e integração do projeto e nas decisões entre disciplinas; a fiscalização acompanha a execução e a conformidade em obra. Funcionam melhor em conjunto.
  • Como evitar discussões intermináveis sobre alterações? Com um processo simples: nenhuma alteração avança sem registo, responsável, e impacto estimado em custo, prazo e qualidade aprovado por quem decide.
  • Qual é o primeiro “sintoma” de desalinhamento? Informações contraditórias: desenhos diferentes para o mesmo elemento, decisões verbais sem ata, e equipas a trabalhar com versões distintas do projeto.
  • Vale a pena investir em coordenação de projeto em obras pequenas? Sim, porque o risco não escala só com a dimensão; escala com interfaces e pressão de prazo. Em obras pequenas, um erro pode ter impacto proporcionalmente maior no orçamento e no relacionamento entre partes.

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