A remodelação avança, o pó assenta, e de repente surge aquela pergunta que ninguém quer responder tarde demais: quem mexeu na instalação elétrica? Um eletricista certo pode salvar o orçamento e a segurança; os erros de contratação, por outro lado, costumam aparecer semanas depois, quando já não há margem para “desfazer e voltar a fazer”. E como a eletricidade não perdoa improvisos, a escolha não é só estética - é risco, conformidade e durabilidade.
Há quem trate isto como escolher um pintor: “vem cá, faz e está feito”. Mas numa obra com paredes abertas, novas cargas (forno, placa, ar condicionado, bomba de calor) e quadros antigos, contratar mal significa disparos de disjuntores, aquecimento de cabos, cheiros a plástico e discussões sobre “isso já estava assim”.
Os erros que mais saem caros (e como os reconhecer)
1) Avançar sem diagnóstico da instalação existente
Um erro clássico é pedir preço “por pontos” sem que alguém veja o quadro, as secções de cabo e as proteções. Numa remodelação, o que existe por trás da parede manda mais do que o desenho da cozinha. Se o eletricista não faz perguntas sobre potência contratada, tipo de terra, diferencial e cargas previstas, está a trabalhar no escuro.
Sinal de alerta: orçamento fechado por telefone com base em “quantas tomadas quer”.
2) Escolher pelo preço mais baixo - sem comparar o que está incluído
Dois orçamentos podem ter o mesmo total e serem mundos diferentes. Um inclui substituição de quadro, DPS, diferenciais adequados e testes; o outro só “puxa fio e mete espelhos”. O barato, aqui, é muitas vezes um recorte invisível: menos proteção, material sem marca, ausência de medições, e trabalho que fica “a funcionar” mas não fica bem.
Antes de decidir, peça que o orçamento detalhe pelo menos:
- intervenções no quadro elétrico (disjuntores, diferencial, DPS)
- cablagem (secções, tipo de condutor, tubagem se aplicável)
- número de circuitos (iluminação, tomadas gerais, cozinha, AC, etc.)
- marca e referência de materiais principais
- ensaios finais (continuidade de terra, diferencial, isolamento)
3) Não confirmar habilitação e responsabilidade
Nem toda a gente que “faz eletricidade” tem enquadramento para executar e assumir uma obra. Em remodelações, pode ser necessário emitir termo/declaração, sobretudo quando há alterações relevantes. E, mesmo quando não é obrigatório, a questão prática mantém-se: quem responde se houver dano, curto-circuito ou falha por execução?
Pergunta simples que evita ruído: “Emite fatura e tem seguro de responsabilidade civil?”
4) Não alinhar a obra com o plano de cargas da casa
Hoje, a casa puxa mais do que há 10 anos. Se vai instalar placa de indução, forno potente, máquina de secar, carregamento de carro elétrico ou ar condicionado, precisa de circuitos dedicados e proteções adequadas. Muitos problemas começam com frases como “sempre foi assim e nunca aconteceu nada”.
Um bom eletricista faz o pequeno exercício que quase ninguém faz: prever o uso real e desenhar circuitos para isso, sem sobrecarregar uma linha de tomadas “que dá para tudo”.
5) Aceitar “soluções rápidas” em vez de soluções conformes
Há atalhos que parecem práticos em obra: emendas mal feitas, caixas tapadas, cabos subdimensionados “porque é só para isto”, ou circuitos misturados para poupar tempo. No dia da entrega funciona; no primeiro inverno, com aquecedores e forno, começa o azar. E quando a parede fecha, a reparação fica cara.
Regra útil: se algo for difícil de inspecionar depois (emendas, caixas, trajetos), tem de ser impecável agora.
6) Não fechar por escrito prazos, fases e o que fica fora
Remodelações vivem de dependências: o eletricista entra depois do pedreiro, antes do pladur, volta para acabamentos, e regressa para testes e luminárias. Se isto não estiver combinado, a obra fica à espera - e o “só consigo para a semana” cria efeito dominó.
Inclua no acordo:
- datas de 1.ª fixação, 2.ª fixação e testes finais
- quem fornece luminárias, espelhos, aparelhagem e LEDs
- condições para trabalhos extra (preço/hora ou tabela)
- responsabilidade por roços, reparações e limpeza pós-intervenção
7) Não exigir testes e validação no fim (o “está tudo a funcionar” não chega)
Tomadas com terra mal ligada, diferenciais que não disparam, circuitos sem identificação no quadro - tudo isto pode passar despercebido. O final de obra é barulhento e cansativo; é precisamente aí que convém ser metódico. Um fecho sério inclui testes e um quadro identificado, para que qualquer intervenção futura não seja uma lotaria.
Peça, no mínimo, verificação de:
- disparo do diferencial (teste funcional)
- continuidade do condutor de proteção (terra)
- identificação de circuitos no quadro
- validação de cargas críticas (cozinha, termoacumulador, AC)
Um mini-checklist para contratar com menos risco
Pense nisto como um filtro rápido, não como burocracia. Se a pessoa foge a metade destas perguntas, está a dizer-lhe como vai ser o pós-obra.
- Visita ao local antes de fechar preço (mesmo que curta)
- Orçamento discriminado e por escrito
- Materiais com marca/referência (ou gama equivalente acordada)
- Plano de circuitos e indicação do que é dedicado
- Prazos por fase + critérios para extras
- Fatura e enquadramento/seguro (quando aplicável)
- Testes e entrega final com quadro identificado
“Funciona” é o mínimo. Numa remodelação, o que interessa é funcionar bem, protegido, e sem surpresas quando a casa começar a viver.
Erros de contratação vs. impacto típico na obra
| Erro de contratação | O que costuma acontecer | Como prevenir |
|---|---|---|
| Sem diagnóstico inicial | Descobertas caras com paredes já fechadas | Visita + verificação do quadro e cabos |
| Escolha só por preço | Cortes em proteção/material | Orçamento discriminado e comparável |
| Sem testes finais | Falhas ocultas e risco de segurança | Checklist de ensaios e quadro identificado |
FAQ:
- Como sei se preciso mesmo de trocar o quadro elétrico na remodelação? Depende do estado do quadro, do tipo de diferencial/disjuntores e das novas cargas. Se vai aumentar potência de equipamentos (cozinha, AC, carregadores), vale a pena pedir ao eletricista para avaliar proteções, espaço disponível e a necessidade de acrescentar DPS.
- É normal o eletricista pedir adiantamento? Pode ser normal quando há compra de material e marcação de agenda. O importante é ficar por escrito o que o adiantamento cobre e em que fase é abatido, idealmente associado ao orçamento e a uma data de arranque.
- Quantos circuitos “faz sentido” ter numa casa remodelada? Não há um número único, mas cozinha e equipamentos de maior potência tendem a exigir circuitos dedicados. Um bom critério é separar iluminação de tomadas, e separar cargas críticas para evitar disparos e sobreaquecimento.
- Se a obra é pequena (só cozinha/banho), ainda assim devo exigir testes? Sim. Mesmo intervenções locais podem mexer em circuitos sensíveis e no quadro. Testes básicos e identificação de circuitos evitam problemas futuros e facilitam manutenção.
Comentários (0)
Ainda não há comentários. Seja o primeiro!
Deixar um comentário