Escolher um pintor para interiores parece simples até ao dia em que o rolo começa a largar pêlo, as juntas ficam marcadas e a cor “igual à amostra” aparece diferente em cada parede. A maior parte dos erros de contratação nasce aqui: na pressa, na falta de perguntas certas e na ideia de que pintar é só “dar duas demãos”. No fim, paga-se duas vezes - em dinheiro, tempo e pó dentro de casa.
Há sinais pequenos que já avisam. Um orçamento com meia dúzia de palavras, uma data vaga, a promessa de “depois logo se vê”, e a pressão para decidir no momento. O problema é que, em interiores, a preparação manda mais do que a tinta, e a preparação raramente aparece quando ninguém a exige.
Um orçamento “barato” que não diz o que inclui
O erro mais comum é comparar apenas o total final. Dois pintores podem cobrar o mesmo por motivos opostos: um porque trabalha bem e planeia, outro porque corta tudo o que não se vê no primeiro dia. Se o orçamento não discrimina tarefas, você está a comprar uma surpresa.
Peça que venha escrito, pelo menos, o essencial:
- Proteções (chão, rodapés, móveis, tomadas, caixilharias)
- Preparação (lavagem, lixagem, massa/regularização, primário)
- Número de demãos e tipo de tinta (marca, linha, acabamento)
- Reparações incluídas e limite do que fica “fora”
- Prazo, fases de obra e dias efetivos de trabalho
“Um preço sem lista é um preço sem compromisso.”
Não confirmar a preparação das paredes (e depois culpar a tinta)
Em interiores, a tinta só acompanha a parede. Se a base estiver fraca, com pó, gordura, humidade antiga, fissuras ou massa mal lixada, o acabamento denuncia tudo sob a luz. E a luz interior é implacável: candeeiros, janelas, sombras ao fim do dia.
Antes de aceitar, faça duas perguntas diretas: como vai preparar as paredes e o que faz se aparecerem manchas, bolores ou tinta a descascar. Um pintor experiente não foge; explica o processo e as opções, e diz o que depende de resolver a causa (humidade, infiltrações, condensação).
Ignorar o acabamento e a iluminação da divisão
“Branco” não é um branco. E “mate” pode ser mate lavável, mate profundo, acetinado disfarçado, ou simplesmente uma tinta fraca que fica marcada ao primeiro toque. Em interiores, a escolha do acabamento depende do uso: corredor com mãos na parede não é o mesmo que um quarto.
Combine isto antes:
- Mate: bom para disfarçar imperfeições, menos tolerante a esfregões (a menos que seja lavável)
- Acetinado/Satinado: mais resistente e lavável, mostra mais defeitos na parede
- Semibrilho: raro em paredes, comum em madeiras/rodapés, muito “honesto” com imperfeições
Se possível, peça ao pintor para testar um pequeno quadrado em duas paredes (luz direta e luz lateral). Uma amostra no catálogo não vive na sua casa.
Não falar de proteção e logística (o que estraga o resto da casa)
Há obras que correm mal sem ser pela pintura. Correm mal porque o pó entra nos roupeiros, porque a fita arranca tinta antiga, porque os móveis ficam “só ali encostados” e depois não há espaço para trabalhar. Em interiores, a organização é metade do serviço.
Confirme o plano: o que sai da divisão, o que fica, como é protegido, onde se lava material, e como se gere o cheiro e o tempo de secagem. Se tem crianças, animais ou trabalha a partir de casa, isto não é detalhe; é o que decide se a semana é vivível.
Aceitar datas vagas e “apareço quando der”
Um pintor bom também tem agenda. A diferença é que, quando não consegue cumprir, avisa e ajusta. O erro é aceitar um “começo para a semana” sem data, sem duração estimada, sem ordem das divisões, e sem clarificar se vai trabalhar seguido ou aos bocados entre outras obras.
Peça um mini-plano: dia de início, quantos dias por divisão, e o que pode atrasar (secagens, reparações, humidade). Não para punir - para se organizar.
Não confirmar quem executa (e contratar um, aparecer outro)
Há equipas sérias e há subcontratações em cascata. O problema não é existir equipa; é você achar que contratou uma pessoa e aparecerem outras sem briefing, sem cuidado, sem a mesma qualidade.
Pergunte claramente: quem vai estar na sua casa, quantas pessoas, e quem é o responsável presente. E combine o canal para decisões rápidas (WhatsApp, chamada) quando surgirem imprevistos.
Pagar quase tudo antes e ficar sem margem
Sinal clássico de futuro conflito: pagamento grande antes de existir trabalho visível. Materiais custam, sim, mas o equilíbrio é simples: o dinheiro deve acompanhar o progresso.
Um modelo comum e saudável:
- Sinal pequeno para marcar data (se fizer sentido)
- Pagamento a meio, após preparação e primeira demão
- Saldo no fim, depois de retoques e limpeza
Guarde uma margem para o “acabamento final”: aquele canto atrás da porta, a segunda passagem no teto, o rodapé que precisa de mais uma demão.
Não alinhar expectativas de “perfeição” (e discutir no último dia)
Muita frustração nasce porque ninguém definiu o que é aceitável. Há paredes antigas com ondulações, tetos com marcas antigas, rodapés gastos. Um bom pintor consegue melhorar muito, mas nem sempre faz magia sem obra de estuque.
Antes de começar, caminhe pela casa com o pintor e aponte o que mais o incomoda. Peça que indique o que vai ficar como novo, o que vai melhorar, e o que só se resolve com intervenção adicional. Esta conversa evita a discussão silenciosa que cresce até ao dia da entrega.
Um checklist curto para reduzir erros de contratação
Pegue nisto antes de fechar:
- Orçamento com tarefas e materiais detalhados
- Preparação explicada (e escrita) para o seu tipo de parede
- Amostra/teste de cor e acabamento na sua luz
- Plano de proteção e arrumação por divisão
- Calendário realista e responsável identificado
- Pagamentos por fases, com margem para retoques
- Condições para extras (humidade, reparações maiores, madeiras)
O que muda quando acerta na contratação
A casa fica mais silenciosa durante a obra, e o resultado aguenta o uso do dia a dia. Não é só estética: é limpeza mais fácil, menos marcas, menos necessidade de repintar cedo. E você não passa uma semana a negociar o óbvio - porque o óbvio ficou escrito.
| Erro frequente | Como evitar | Sinal de alerta |
|---|---|---|
| Orçamento vago | Exigir discriminação de tarefas | “Inclui tudo” sem detalhes |
| Preparação ignorada | Perguntar método e produtos | Só fala de “duas demãos” |
| Datas indefinidas | Pedir plano por fases | “Vou passando quando puder” |
FAQ:
- Como sei se um orçamento está completo? Se disser o que será protegido, como serão preparadas as paredes, quantas demãos e que tinta (marca/linha/acabamento). Sem isso, é incompleto.
- É normal aparecerem “extras” durante a obra? Sim, sobretudo em casas antigas. O importante é definir antes como se aprovam extras e que tipo de problemas estão fora do preço base (humidade, grandes reparações).
- Mate ou acetinado: qual é melhor para interiores? Depende do uso e do estado da parede. Mate disfarça mais; acetinado lava melhor, mas evidencia imperfeições e reflexos.
- Devo comprar eu a tinta? Pode, mas confirme compatibilidade com primários e sistema do pintor. Muitas vezes é melhor o pintor fornecer para garantir consistência e responsabilidade sobre o resultado.
- Quanto tempo devo esperar para “avaliar” o acabamento? Veja à luz do dia e à luz artificial depois de seco. Pequenos retoques devem ser feitos no fim, com a mesma tinta e método.
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