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Top mitos que levam pessoas a contratar mal

Homem em casa, a analisar documentos e a usar smartphone com aplicação de avaliação, chávena de café ao lado.

Acontece numa manhã comum: abre o telemóvel, vê “disponível já”, “mais barato da zona”, “5 estrelas”. A contratação de artesãos, que devia ser uma decisão simples para resolver uma obra em casa, torna-se um labirinto quando acreditamos em mitos sobre contratação que soam a bom senso - mas que, na prática, custam tempo, dinheiro e paciência. E o pior é que o erro raramente parece um erro no momento em que o fazemos.

Eu já vi isto a acontecer com portas que não fecham, duches a pingar e cozinhas “quase prontas” que ficam assim durante semanas. Não é falta de inteligência; é excesso de confiança em atalhos mentais. Pequenos mitos, grandes consequências.

Os mitos que mais sabotam uma contratação (e porque parecem tão convincentes)

A maioria destes mitos nasce de uma ideia confortável: “há um sinal simples que garante que vai correr bem”. O problema é que obras não são compras de prateleira. São pessoas, contexto, imprevistos e detalhe técnico.

A seguir estão os mitos que mais levam a contratar mal - especialmente quando há pressa, desgaste ou um orçamento apertado.

Mito 1: “O mais barato é o mais esperto”

O orçamento mais baixo acalma. Dá aquela sensação de vitória: “poupei já aqui, logo começo bem”. Só que muitas vezes o preço baixo vem com uma coisa escondida: falta de escopo.

Um orçamento “barato” pode não incluir preparação, materiais equivalentes, deslocações, proteção de áreas, remoção de entulho, acabamentos, garantia. E depois aparece o clássico: “isso é extra”.

Como contrariar: peça sempre orçamento com itens discriminados (mão de obra, materiais, preparação, prazos) e compare linha a linha, não só o total.

Mito 2: “Se tem muitas estrelas online, está garantido”

Avaliações ajudam, claro. Mas não substituem contexto. Cinco estrelas podem vir de trabalhos pequenos (trocar uma torneira) e não de obras com planeamento (remodelação de WC). Podem ser antigas, podem ser de clientes com expectativas diferentes das suas.

E há outra armadilha: o perfil pode ser bom, mas a equipa que aparece pode não ser a mesma que fez os trabalhos elogiados. Em subempreitada, isto acontece mais do que se admite.

Como contrariar: peça 2–3 fotos de trabalhos semelhantes ao seu e, se possível, fale com um cliente recente sobre prazos, limpeza, comunicação e “extras”.

Mito 3: “O artesão ‘de confiança’ não precisa de papelada”

Esta é a que arruina mais relações. Porque começa com boa fé e termina em frustração. O “não é preciso contrato” costuma querer dizer “não há regras claras quando houver dúvida”.

Um acordo escrito não é desconfiança; é memória. Define o que está incluído, o que não está, como se lidam alterações, datas, pagamentos, materiais e garantia. Protege as duas partes quando a obra ganha ruído.

Como contrariar: mesmo que seja simples, ponha por escrito: escopo, preço, prazo, condições de pagamento, quem compra materiais, e o que acontece se houver atrasos por terceiros.

Mito 4: “Quanto mais rápido começar, melhor”

A pressa é compreensível: uma infiltração não espera, uma cozinha parada desgasta. Mas começar “já amanhã” pode significar falta de planeamento, ou uma agenda tão cheia que o trabalho vai ser feito aos bocados, entre outras obras.

Um bom profissional muitas vezes demora a começar porque está ocupado - e porque planeia. Não é um elogio automático, mas é um sinal a avaliar com calma.

Como contrariar: pergunte como será a sequência de trabalho, quantos dias úteis reais, e se a equipa estará dedicada ou a “passar” quando der.

Mito 5: “Se ele fala bem, trabalha bem”

Há quem comunique de forma impecável e execute de forma mediana. E há quem fale pouco e faça muito bem. O mito aqui é confundir simpatia e clareza com competência técnica.

O que interessa é: entende o problema, explica o porquê, propõe solução, assume limites e identifica riscos. Isso é diferente de “vender” uma certeza.

Como contrariar: faça 3 perguntas técnicas simples e veja se a resposta é concreta: - O que vai ser feito antes do acabamento? - Que materiais equivalentes aceita (e quais não)? - Onde costuma falhar este tipo de trabalho?

Mito 6: “Materiais eu compro, fica mais barato”

Às vezes fica. Muitas vezes não. O artesão pode ter acesso a preços e marcas que você não conhece, e pode saber o que é compatível (tintas, colas, selantes, tubagens). Quando o cliente compra, aumenta o risco de faltar algo no dia, comprar a medida errada, ou escolher um material “bonito” mas inadequado.

E depois há a parte delicada: se o material falhar, quem responde? A discussão costuma cair no colo do cliente.

Como contrariar: combine por escrito quem compra o quê. Se comprar você, peça a lista exata (marca, referência, quantidades, alternativa aceitável).

Mito 7: “Pagar adiantado mostra seriedade e acelera”

Seriedade mostra-se com alinhamento e cumprimento, não com transferência total antes de começar. Adiantamentos podem ser necessários para materiais, sim. Mas pagar quase tudo antes de ver trabalho feito tira-lhe a principal alavanca de gestão: o calendário de pagamentos.

O resultado típico é simples: a obra perde prioridade quando já não há urgência financeira do lado de lá.

Como contrariar: use pagamentos por marcos (ex.: preparação concluída, instalação feita, acabamentos, entrega final). E guarde sempre uma parte para a revisão final.

Um método curto para filtrar melhor (sem transformar isto num “processo infinito”)

A ideia não é complicar. É evitar o erro óbvio que só parece óbvio depois.

  1. Defina o escopo em 6 linhas. O que quer feito, onde, e com que resultado visível.
  2. Peça 2 orçamentos comparáveis. Se não forem comparáveis, faça-os ficar.
  3. Exija datas e sequência. “Quando começa” e “quantos dias úteis reais” não são a mesma coisa.
  4. Combine alterações. Qualquer extra deve ter preço antes de ser feito.
  5. Pague por etapas. Materiais justificam sinal; o resto, por progresso.

“Obra boa não é a que nunca tem problema. É a que tem regras para quando o problema aparece.”

Sinais pequenos que valem mais do que promessas grandes

Há detalhes que não são glamour, mas costumam prever o resto. Repare nisto logo no primeiro contacto: faz perguntas ou só dá preço? mede e observa ou “já sabe”? explica alternativas e riscos ou garante tudo?

Um bom profissional tende a ser específico. E quando não sabe, diz que vai confirmar. Isso, na prática, é uma das maiores provas de competência.

Mito comum O que fazer em vez disso Benefício
“O mais barato é melhor” Comparar orçamento item a item Menos extras e surpresas
“Sem contrato é mais simples” Acordo escrito curto Menos conflitos e ambiguidades
“Pagar tudo acelera” Pagamento por marcos Mais controlo e prioridade

FAQ:

  • Como sei se um orçamento está “incompleto”? Quando não discrimina preparação, materiais, remoção de entulho, acabamentos, ou quando tem termos vagos (“ajustes”, “trabalhos diversos”). Peça itens e quantidades.
  • Devo pedir sempre referências? Sim, especialmente em trabalhos semelhantes ao seu. Duas conversas curtas com clientes recentes costumam valer mais do que dezenas de estrelas.
  • É normal pedir sinal? É comum para compra de materiais. Evite pagar a totalidade antes de ver trabalho executado e prefira pagamentos por etapas.
  • E se eu precisar de começar com urgência? Mesmo com urgência, reserve 30 minutos para definir escopo e regras de extras. É o mínimo que evita o “barato que sai caro”.
  • O que é um “marco” de pagamento razoável? Algo verificável: fim da preparação, instalação concluída, acabamentos, entrega e revisão final, com uma retenção pequena para acertos.

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