Saltar para o conteúdo

Top mitos sobre contratar empresas de remodelação

Três pessoas discutem um projeto numa mesa, com portátil, papéis e gráficos.

Contratar uma empresa de remodelação costuma acontecer quando a casa já não acompanha a vida: uma cozinha que encrava, uma casa de banho cansada, um layout que não funciona. É precisamente aí que os mitos sobre renovações aparecem - no café com amigos, em grupos de bairro, em orçamentos “por alto” - e acabam por custar tempo, dinheiro e paz. O problema não é a dúvida; é a certeza errada, dita com convicção, mesmo antes de alguém medir, abrir paredes e olhar para as infraestruturas.

Vi isto acontecer em dezenas de obras: o cliente chega com uma ideia fixa (“isto resolve-se num instante”), a obra responde com realidade (prazos, compatibilizações, licenças, imprevistos), e de repente ninguém está a falar a mesma língua. A boa notícia é que estes mitos têm padrão. E quando se desmontam cedo, a remodelação deixa de ser um salto no escuro e passa a ser um processo com controlo.

Dos “dizem que” ao que a obra realmente exige

Há uma diferença entre uma obra correr bem e uma obra “parecer simples”. Por fora, vê-se o revestimento, a pintura, as portas novas. Por dentro, há decisões invisíveis: nivelamentos, impermeabilizações, caudais, secções de cabo, ventilação, compatibilidade entre materiais e garantias.

A maior parte dos mitos nasce porque se confunde estética com engenharia, e orçamento com previsão. A obra não perdoa suposições: mede, testa, revela. E quanto mais cedo se aceitar isto, menos surpresas vão parar ao calendário - e ao saldo bancário.

Mito 1: “Qualquer empresa faz remodelações; é tudo a mesma coisa”

O nome pode ser parecido, mas o trabalho não é. Uma empresa habituada a construção nova nem sempre tem a rotina de remodelar com o prédio habitado, vizinhos, restrições de ruído, elevadores pequenos, acessos difíceis e instalações antigas que não aparecem nos desenhos.

Uma boa empresa de remodelação trabalha como quem aterra um avião com vento lateral: checklists, proteção de zonas, sequências bem definidas, e decisões documentadas. Pergunte por obras semelhantes à sua (tipo, idade do imóvel, escala) e peça para ver fotografias de “meio da obra”, não apenas o antes/depois. É aí que se vê método.

Mito 2: “O orçamento fecha-se numa visita rápida e fica definitivo”

Uma visita rápida serve para uma ordem de grandeza, não para um compromisso. Sem levantamento detalhado, sem mapear demolições, infraestruturas existentes, pontos de água, ventilação, quadro elétrico, prumos e níveis, qualquer número é uma aposta - e apostas pagam-se com “trabalhos a mais”.

O que funciona é separar fases: primeiro o diagnóstico (levantamento e escopo), depois o orçamento (com mapa de quantidades, materiais, exclusões) e só depois a execução. Se quer previsibilidade, procure linhas claras: o que está incluído, o que é opcional, o que é provisório e quais são os critérios de medição.

Mito 3: “O mais barato é o mais esperto, porque materiais são todos iguais”

Materiais “iguais” raramente são iguais: diferem em classe de uso, absorção, tolerâncias, sistema de aplicação e compatibilidade. E há outra parte ainda mais crítica: mão de obra e preparação. Uma impermeabilização não falha no mosaico; falha na base, na junta certa, no primário, no tempo de cura.

Compare propostas pelo que está por baixo do preço. Se o orçamento barato não menciona preparação de suporte, regularizações, primários, reforços, proteção de obra, gestão de resíduos e testes (ex.: estanquidade), o valor não está “melhor”; está incompleto.

Mito 4: “Licenças e regras são burocracia; faz-se e pronto”

Em muitos casos, dá para avançar sem licença - mas nem tudo é “só interior”. Alterações de fachadas, vãos, estruturas, extrações, gás, partes comuns e determinadas mudanças em frações podem exigir comunicação, projeto, termos de responsabilidade ou autorização do condomínio. E mesmo quando não exige, há regras técnicas que continuam a existir: ventilação, segurança elétrica, impermeabilizações, acessibilidade.

Ignorar esta camada pode sair caro no pior momento: quando vende, quando tem um sinistro, quando um vizinho reclama ou quando precisa de assistência em garantia. Uma empresa séria não complica; esclarece o caminho antes de abrir a primeira parede.

Mito 5: “Prazos são só ‘mais ou menos’; é normal derrapar sempre”

Há imprevistos reais - especialmente em edifícios antigos -, mas “derrpar sempre” costuma ser sinal de planeamento fraco. O que distingue uma boa gestão é a sequência: demolições, infraestruturas, fechamentos, impermeabilizações, acabamentos, e só depois carpintarias e pintura final.

Peça um cronograma simples e verificável, com marcos e dependências. E combine desde o início o que acontece quando há decisões pendentes do cliente (escolhas de revestimentos, torneiras, luminárias): sem decisões atempadas, a obra pára - e a paragem custa.

Mito 6: “Mudar de ideias a meio não tem impacto; é só trocar uma peça”

Trocar “uma peça” muitas vezes altera várias camadas: uma torneira embutida muda a profundidade da parede; um duche maior muda pendentes e ralos; uma ilha na cozinha altera pontos elétricos, exaustão, iluminação e circulação. A mudança não é pecado - o problema é não ter processo para a gerir.

O antídoto é um sistema de alterações (change orders): descrição, impacto em prazo, impacto em custo, aprovação por escrito. Parece formalidade, mas é o que protege a relação quando a obra aquece.

Um pequeno guia para contratar sem cair nos mitos

Não precisa de saber tudo. Precisa de saber o suficiente para fazer boas perguntas e reconhecer respostas vagas.

  • Peça um escopo escrito (o que entra e o que não entra).
  • Exija detalhe mínimo de materiais e sistemas (não só “cerâmica” e “tinta”).
  • Confirme quem coordena a obra no dia a dia e como comunica (mensagens, relatórios, fotos).
  • Combine critérios de medição para extras e imprevistos.
  • Valide prazos com marcos e dependências, não só uma data final.

“Uma remodelação não corre bem por sorte. Corre bem porque as decisões difíceis foram tomadas cedo, e as fáceis foram documentadas.”

Ponto-chave O que verificar Porquê importa
Orçamento sólido Levantamento + mapa de quantidades Reduz “surpresas” e extras
Método de execução Sequência, proteção, testes, registos Evita retrabalhos e conflitos
Gestão de alterações Aprovação escrita de custos/prazos Mantém controlo e transparência

FAQ:

  • Como sei se uma empresa de remodelação é mesmo especializada? Peça portfólio de obras semelhantes, fotos de processo (infraestruturas/impermeabilizações) e explique o seu caso para ver se fazem perguntas técnicas, não apenas estéticas.
  • Devo escolher preço fechado ou obra à medição? Depende do grau de incerteza. Preço fechado exige escopo muito claro; em edifícios antigos, pode ser mais seguro ter itens provisórios bem definidos e regras de medição transparentes.
  • Quanto devo reservar para imprevistos? Em remodelações interiores, é comum reservar uma almofada (ex.: 10–15%), especialmente em prédios antigos. O importante é acordar como se valida cada extra.
  • O que mais costuma atrasar uma obra? Decisões tardias de materiais e equipamentos, faltas de stock, incompatibilidades entre equipas e descobertas após demolição (humidades, instalações degradadas).
  • Vale a pena ter tudo por escrito? Sim. Escopo, prazos, materiais, garantias e alterações por escrito reduzem mal-entendidos e facilitam a gestão - para ambos os lados.

Comentários (0)

Ainda não há comentários. Seja o primeiro!

Deixar um comentário